Cap. 217
— Aqui começa o território Windigo. – avisa Nokomis, após passar a mão sobre uma rocha parcialmente coberta pela neve.
— Como você sabe? – indaga Augustus.
Nokomis o chama para descer do cavalo e juntar-se a ela. Ele quase arrasta o cavalo como um papel grudado na sola do pé ao aceitar o convite.
A nativa segura a mão dele é começa a explicar: — Não basta olhar, é preciso sentir.
Augustus concorda (na verdade, ele concordaria mesmo que Nokomis o mandasse enfiar a cabeça em um vespeiro): — Sim, eu sinto.
Nokomis passa a mão de Augustus pela rocha e ensina: — Consegue sentir? Frio?
Augustus: — Sim!
Nokomis: — Duro?
Augustus: — Muito.
— Ela está falando da pedra! – lembra Cobra Traiçoeira. Augustus arregala os olhos, envergonhado, enquanto Nokomis sorri e continua: — Sinta os pedaços da pedra, sinta as diferenças.
Subitamente, Augustus realmente percebe algo: — Parece um risco.
Nokomis: — Sim.
Augustus continua a exploração: — O risco continua, parece um desenho.
Nokomis: — Um símbolo.
Augustus: — Tem um triângulo, um círculo.
Empolgado, ele reproduz a figura que sentiu escavando com os dedos na neve.
— É isso? – pergunta ele à nativa, como uma criança ansiosa pela aprovação da professora.
Nokomis: — Muito bem. Isso mesmo. E o que você acha que simboliza?
Augustus: — Parece uma pessoa.
Nokomis: — Sim.
Augustus: — Parece estar de cabeça para baixo.
Nokomis: — Isso mesmo.
Augustus, empolgado por ter acertado: — Fabuloso! O que esse símbolo quer dizer?
Nokomis, sorrindo e compartilhando da empolgação do rapaz: — Morte.
Cobra Traiçoeira resolve se manifestar: — É sempre bom ver como terminam as conversas de vocês. Podemos seguir em frente?
Nokomis monta em seu cavalo, se aproxima de Cobra e pergunta em Siksikáí'powahsin: — Ele tem alguém? Uma esposa?
Curioso como sempre, Augustus se intromete na conversa: — Vocês estão falando de mim? O que ela falou?
Cobra se aproxima e sussurra: — Ela disse que se você continuar olhando para ela desse jeito, ela arrancará seus olhos e usará como enfeite no colar.
Augustus olha novamente para a moça e responde: — Eles ficariam felizes, em um lugar bem melhor do que estão agora, com certeza.